Em Portugal a tendência de compra de automóveis novos inverteu-se no primeiro semestre deste ano. Os modelos a gasóleo foram destronados da liderança das vendas de carros sendo esta agora ocupada pelos veículos a gasolina.
As restantes variações, sejam totalmente elétricas ou de consumo de outro combustível que não os dois principais também venderam mais. Se bem que, neste segmento os valores acumulados ainda estão a ganhar músculo, atualmente ainda são pouco significativas. Porém já estão a sair da classificação de residuais. Saiba mais aqui.
O regresso da gasolina à liderança das vendas
Pela primeira vez, em 16 anos, os consumidores portugueses compraram mais carros ligeiros a gasolina do que a gasóleo nos primeiros seis meses de 2019. O pico de vendas dos carros a gasóleo ocorreu em 2013 onde quase três em cada quatro carros dispunham desta motorização.
Esta mudança de hábito de compra passa por diversos fatores, em primeiro lugar o medo devido às imposições de limitação de circulação dos Diesel em várias cidades europeias. Outro fator relevante é a sensibilidade ecológica e a visão economicista.
Assim, a aproximação do preço da gasolina e do gasóleo e o aumento do risco de desvalorização dos carros a gasóleo são os argumentos que estão a pesar cada vez mais na hora de substituir o meio de transporte pessoal. Esta alteração pode ainda ser analisada como a resposta das marcas à necessidade do cumprimento dos limites de emissões.
No entanto, os dados do mercado português expõem que as vendas de carros sofreram uma quebra de 4,4%. Desceu para 150.688 unidades, segundo informação da Associação Automóvel de Portugal (ACAP). Dos 128.595 veículos ligeiros de passageiros vendidos até junho, 65.797 possuíam motores a gasolina o que representa 51,2%.
Com 39,4% ficou a parcela de mercado representativa dos veículos a gasóleo, com 50.667 unidades. Os veículos com outros tipos de motorização apesar de estarem a subir paulatinamente ainda só atingiram 9,4% da quota do mercado automóvel português.
Segundo Hélder Pedro, secretário-geral da ACAP “A compra de mais carros a gasolina do que a gasóleo é um fenómeno europeu que se verifica desde 2016 e que Portugal está a acompanhar. A diferença que tínhamos para o resto do continente é que a quota de mercado dos Diesel era bastante grande”, recorda em declarações ao Dinheiro Vivo.
Análise dos valores de vendas de carros
Comecemos pela visão macro das vendas, há seis meses consecutivos que são comprados menos automóveis. O acumulado de vendas apresenta 4,4% de quebra no fim deste semestre. Porém, evolutivamente, ao longo do ano relembro que em fevereiro e março era 8%. Todavia melhorando em abril para uma quebra de somente 3,7%.
“Não esperávamos uma quebra tão acentuada no primeiro semestre. Estamos piores do que na média da Europa“, admite o dirigente da ACAP. Porém, afirma que está esperançoso que “melhor um pouco” nos próximos meses e, assim, contribua para a “estabilidade do mercado”.
Talvez este seja o resultado das dúvidas devido às novas propostas de motorizações, onde impera a desconfiança dos consumidores perante a novidade. Talvez seja só um protelar da decisão para os últimos meses do ano. A hesitação tenderá a esfumar-se conforme a nova tecnologia provar as suas mais-valias. Porém, a confiança poderá recuar caso surjam problemas.
A nível de acumulados de vendas a Renault lidera, com 18.094 carros vendidos, apesar da quebra de 9,3% em relação ao período homólogo. No pódio de vendas português estão só marcas francesas. Assim, em segundo está a Peugeot (+ 1,6%), com 13.696 unidades. Seguida da Citroën (+ 15,3%) lugar representativo dos 8.861 veículos vendidos. A tabela dos mais vendidos permite analisar os números e variações das marcas com vendas mais significativas:

Top das vendas de carros em Portugal (Fonte: ACAP)
Por segmentos, temos nos comerciais ligeiros uma quebra de 13%. Nos veículos pesados existiu um crescimento de 19,8%, atingindo as 3.078 unidades. Analisando mais a detalhe apura-se que o subsegmento dos pesados de passageiros a subida foi meteórica com 76,3%. Constata-se a subida de 245 autocarros nos primeiros 6 meses de 2018 para 432 no primeiro semestre de 2019.
Como vão os elétricos
O grupo de carros que mais atenções geram são os elétricos. Este tipo de motorização apesar da grande publicidade em seu redor representa somente 3% do mercado. Até junho de 2019 foram registados 3.905 veículos deste tipo. Porém esse número representa quase o mesmo número averbado ao longo de todo o ano de 2018, onde foram vendidos 4.073 automóveis.
Com um “forcing” focado nas entregas em Portugal, a Tesla conseguiu ultrapassar a Nissan neste segmento de mercado. A marca americana lidera as vendas entre nós com 1143 veículos matriculados. Para trás ficaram a Nissan com 1.049 e a Renault com 547 unidades.
Só por curiosidade, no mês de junho a marca norte-americana registou 432 veículos, praticamente um terço das suas vendas deste ano. Enquanto as duas marcas seguintes, Nissan (126) e Renault (145), ficaram-se por números muito mais modestos.
A verdade da liderança da gasolina
Os valores de vendas de veículos a gasolina sobre os que são a gasóleo foi notícia de abertura dos blocos noticiosos dos canais de televisão nacionais. Porém analisando os números a verdade é que a gasolina só ultrapassa o diesel quando analisado unicamente os ligeiros de passageiros.
Contudo quando analisamos os valores de vendas em Portugal os números “totais”, são 65.829 para a gasolina e 69.724 unidades de veículos. Então são 44,6 % para a gasolina e 47,2% para o gasóleo. Veja-se a tabela da ACAP por tipo de energia.

Vendas de carros em Portugal por tipo de energia (Fonte: ACAP)
Naturalmente que determinado tipo de veículo só tem motorizações a diesel. Mas a mobilidade está a mudar e os meios de transporte que usamos estão se adaptando ao que são as novas regras e exigências do consumidor moderno. Mas as preferências “reais” ainda podem ser consideradas antiquadas. Como também pouco conscientes da pegada ecológica que a sua escolha representa.
Fotos | PublicDomainPictures, ACAP