A GRSP alerta para os perigos de investir menos em segurança rodoviária durante a pandemia

Ines Carmo

20 de Agosto de 2020

Global Road Safety Partnership (GRSP), à qual pertencem a Fundação MAPFRE e a Michelin Corporate Foundation, pedem às autoridades rodoviárias de todo o mundo para que não reduzam o investimento em segurança rodoviária depois da pandemia. Esta organização apoia as associações de segurança rodoviária que se dedicam a realizar boas práticas de condução em países e comunidades de todo o mundo. Num comunicado de imprensa divulgado recentemente, a GRSP foca a atenção nos novos desafios criados pela covid-19 e instiga as instituições de todo o mundo a «não tirar os olhos da estrada».

Queda da sinistralidade durante o estado de emergência

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O argumento da GRSP para esta “melhoria temporal” que a pandemia de covid-19 deu à sinistralidade. Uma melhoria que surge como consequência das restrições de mobilidade que os governos de todo o mundo colocaram às pessoas. Como resultado, o volume de trânsito decaiu nas cidades e nas estradas e, por consequência, diminuiu a sinistralidade para níveis históricos.

Não é em vão, que março foi do que teve menores registos de sinistralidade de que há memória. E o diretor da da Área de Prevenção e Segurança Rodoviária da Fundação MAPFRE, Jesús Monclús, destaca, em Espanha, uma descida de 69% em relação a 2019, entre 16 de março e 23 de abril. Durante a Páscoa, altura em que há sempre mais acidentes, a tónica foi similar. Perderam a vida 13 pessoas, enquanto que em 2019 foram 27 as vítimas mortais na estrada e em 2018 chegou-se aos 28 mortos. Isso pressupõe uma descida de 52% na mortalidade, mas que não pode ser significativo, uma vez que as deslocações se reduziram em pelo menos 86%.

Fundação MAPFRE e a Michelin Foundation pedem para que não se reduza o investimento nas estradas

 

Isto é precisamente o que a GRSP teme, que os números menores da sinistralidade causem equívocos e criem uma falsa sensação de melhoria. Ou, pior ainda, que sirva de desculpa para as administrações e entidades privadas congelem ou reduzam os investimentos em segurança rodoviária. Em 2020 termina o Decénio de Ação para a Segurança Rodoviária, das Nações Unidas e, ainda que se tenham extraído algumas conclusões positivas, ainda são (e continuam a somar) 1,4 milhões de falecidos por ano em todo o mundo.

E poderíamos chover sobre o molhado, porque as consequências sócio-económicas da crise da covid-19 poderia ainda piorar a situação das estradas. A GRSP aponta que muitas empresas de transporte ou de logística poderiam ver-se pressionadas a reduzir custos operativos, descuidando a manutenção dos seus veículos ou a formação dos seus condutores. As dificuldades laborais generalizadas também poderiam influenciar o condutor particular, com acidentes causados por um maior nível de stress ou distrações.

Também já vimos que o regresso à «nova normalidade» teve alguns efeitos imprevisíveis. Por um lado, a percentagem de condutores que optaram por pisar mais o acelerador aumentou em 39%. Por outro, o número de mortos em acidente de moto duplicou após o desconfinamento (dados de Espanha). O motivo pode estar relacionado com o facto de, perante estradas mais vazias, a nossa sensação de risco diminuir e aumentarem as nossas imprudências.

O impacto dos acidentes de trânsito no cenário pós-Covid

São estes os motivos pelos quais a Global Road Safety Partnership lançou o seu apelo às entidades e empresas de todo o mundo: “Don’t take your eyes off the road” (“Não tire os olhos da estrada”). Alerta que é precisamente agora que há que redobrar esforços no investimento em segurança rodoviária. E que, em caso de se reduzir, poderia desencadear uma crise global que vai mais além do drama das perdas humanas.

Neste sentido, a GRSP adverte que aos 1,4 milhões de falecidos a cada ano em todo o mundo, há que somar outros 14 milhões de pessoas que ficam feridas com gravidade. Debaixo da luz fria dos números, tanto uns como outros supõem uma série de gastos dos cofres públicos. O relatório elaborado pelo Ministério Espanhol do Emprego e da Segurança Rodoviária “Los accidentes de tráfico y su incidencia en el Sistema de la Seguridad Social”, resume-os assim:

  1. Custo de serviços de emergência: resgate, atenção, deslocação…
  2. Gastos médicos e sanitários, de hospitalização e tratamento ambulatório.
  3. Prestação de pensões por incapacidade, viuvez, orfandade…

Tudo isto iria supor um custo direto ao estado espanhol de 275 milhões de euros por ano. Número que, ainda assim, poderia ficar muito por baixo se tivermos em conta outros custos como os danos à propriedade derivados dos acidentes, assim como a perda de rendimentos gerados pela produtividade dos trabalhadores lesionados. A OCDE estima que todos estes gastos sejam uma factura de 13.000 milhões de euros para o país. Por outro lado, a Fundação MAPFRE explica neste artigo que as perdaas geradas comem 2% do PIB nacional. Globalmente, esta percentagem alcança 6,5% do PIB mundial, o que se traduz em 1,7 mil milhões de dólares por ano.

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Como vemos, a sinistralidade rodoviária pressupõe custos económicos enormes às administrações públicas. Custos que poderiam aumentar se houver o temido aumento de acidentes que se vaticina após o confinamento. E semelhante carga fiscal poderia ser fatal para alguns já de si afetados pelos dinheiros públicos e para os serviços de saúde sustentados por eles. Nada comparável com o drama humano que aconteceria, em conjunto, somando a sinistralidade rodoviária e o colapso dos serviços de saúde.

 Imagens | iStock: Patrick DaxenbichlerSasha_SuziyacobchukSergii PetrukSatjawat Boontanataweepol.

Fonte: CirculaSeguro.com