A realidade virtual ajuda-nos a conduzir em segurança

Ines Carmo

5 de Novembro de 2020

A tecnologia continua a abrir caminho em todos os âmbitos com o propósito legítimo de melhorar a nossa qualidade de vida e oferecer ajuda na resolução de problemas. A realidade virtual encontrou novos entornos de atuação também na segurança rodoviária. Os dados de acidentalidade ano após ano dão conta da necessidade de encontrar novas vias de consciencialização e esta tecnologia pode ser um recurso de utilidade na obtenção de resultados.

A utilização da realidade virtual vai muito mais além e parece apresentar-se como ferramenta que terá um papel principal na segurança rodoviária nos veículos do futuro. Aqui veremos alguns exemplos.

Sensibilização e prevenção de acidentes com os óculos de RV

Projectos com o do Portal Previne (Espanha) e a sua “Oficina de Segurança rodoviária”, já há algum tempo que usam a realidade virtual imersiva como ferramenta de consciencialização rodoviária. O seu objectivo consiste em expor aos seus empregados a cenários de condução de risco através de óculos de RV, que tiveram um grande acolhimento e impacto no comportamento dos utilizadores. De um total de 1554 participantes, 75% avaliaram as oficinas com a pontuação máxima.

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Simuladores para a formação rodoviária nas escolas de condução

A introdução de tecnologias de realidade virtual foi especialmente bem recebida nas escolas de condução. Muitos centros de formação incorporaram o uso de simuladores como uma ferramenta complementar às aulas teóricas ministradas. Neste momento, existem dois aspetos nos quais a realidade virtual tem sido fundamental, de acordo com a Fundação CNAE (Confederação Nacional de Escolas de Condução):

  1. Como passo anterior às aulas práticas, onde se podem pôr á prova os conhecimentos teóricos sem os riscos da condução real.
  2. Como parte da terapia de exposição para aqueles condutores que sofrem algum tipo de fobia relacionada com a condução.

Os professores asseguram que notam diferenças importantes entre os alunos que usaram o simulador e aqueles que não o fizeram. Manobras automáticas como o uso dos pedais, as mudanças da caixa de velocidade, ligar ou desligar os faróis ou limpa para-brisas e o controlo dos espelhos retrovisores fazem-se muito melhor depois de ter utilizado a realidade virtual. Sem dúvida, uma ferramenta que é muito útil como complemento das práticas de condução e que permite ao formador ir selecionando diferentes cenários para reforçar certos conteúdos com maior ou menor dificuldade.

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É possível, assim, oferecer uma formação mais específica a cada aluno em função das suas habilidades e carências ao volante. Mas, que tipo de cenários se podem trabalhar no simulador de uma escola de condução?

  • Capacidade de reação perante passadeiras ou obstáculos.
  • Manobrabilidade e correção de imprevistos como furos ou “aquaplanning”.
  • Condução defensiva em situações climatéricas adversas como a névoa, chuva forte ou rajadas de vento.
  • Prática de entradas na via, ceder prioridade e ajustar a velocidade de acordo com o trajeto.
  • Identificação da sinalização vertical e horizontal, assim como o respeito ao resto dos utilizadores da via.

Uma «visita virtual» à manutenção do veículo

Outro aspeto chave onde a realidade virtual tem um papel importante é na melhoria da segurança que todos os fabricantes procuram. As empresas do ramo automóvel trabalham na sua área de Investigação e desenvolvimento para encontrar soluções tecnológicas que permitam aos seus modelos ser mais seguros e incrementar os elementos de proteção a bordo. Um gigante do motor como a Porsche já leva três anos a utilizar a tecnologia “Tech Live Look” em oito dos seus concessionários dos Estados Unidos e Canadá.

Nesta plataforma lançaram uns óculos inteligentes de realidade aumentada com o último equipamento de projeção, alta resolução e autofoco com luz LED. O seu funcionamento permite ligar em tempo real o técnico de manutenção do concessionário ao serviço de suporte do fabricante a 3500km. Uma espécie de vídeo conferência com acesso imediato remoto a especialistas que, através dos óculos, envia e recebe informação sobre os boletins técnicos, imagens e capturas de ecrã sobre a avaria que o especialista está a reparar nesse momento.

Baseado nos resultados do programa piloto, com estes óculos, tempo de resolução do trabalho de manutenção reduzia-se em 40%. Assim as questões mais complexas poderiam solucionar-se de forma mais rápida e eficiente do que através de outros serviços de correio ou contacto.

A app de Realidade Virtual pela segurança de crianças autistas

A tecnologia de RV também encontrou outros projetos interessantes de como melhorar a segurança rodoviária infantil. Desde há mais de uma década, a Fundação Conectea contribuiu para aumentar a qualidade de vida das crianças com Transtorno do Espectro Autista (TEA), assim como a sua integração na sociedade. Recentemente puseram em marcha uma plataforma gratuita de realidade virtual que dá acesso e ajuda ao treino destas crianças em situações vulneráveis.

A educação rodoviária infantil é a chave para formar os construtores do futuro e, neste sentido, o trabalho com crianças com TEA é fundamental. Circunstâncias como atravessar uma passadeira pode ser um grande incómodo para uma criança autista e com a app VirTEA é possível colocar-se à prova sem excessiva exposição. Manter a espera, ouvir os sons, trabalhar a antecipação e controlar o sinais em volta de um peão com TEA são alguns dos módulos que se podem fomentar com esta app (disponível em Google Play e Apple Store).

O futuro da condução através do Head Up Display

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Este gadget já vem de série na grande maioria dos veículos que se comercializam atualmente. Baseando o seu funcionamento no princípio de reflexão da luz sobre um vidro, o condutor obtém toda a informação numa visão ampla. E, sobretudo, sem desviar a atenção da estrada. Diretamente sobre o campo de visão do para-brisas projetam-se os indicadores do estado do automóvel, mas também do que acontece à volta (veículo conectado).

De entre a informação que podemos observar no Head Up Display encontramos: a velocidade instantânea, a distância de segurança, as indicações de direção do GPS, ou os sinais de trânsito vigentes em cada troço. Tudo isso graças aos diferentes sensores, câmaras de visão noturna e informações da internet captadas e retransmitidas diretamente ao parabrisas do veículo.

A realidade virtual eleva o Head Up Display a uma nova dimensão

Mas, é possível ir um passo mais à frente com a realidade aumentada? Esta ferramenta transforma o nosso para-brisas num grande ecrã transparente sobre o qual se pode projetar a faixa e a direção na qual devemos circular, a estrada onde virar e a distância até ao nosso destino. Além disso, utiliza um código de cores que nos ajuda a ajusta a velocidade ou travar a tempo, em função do ângulo da curva. E não nos devemos ficar exclusivamente pelas indicações de navegação. A realidade aumentar permite reconhecer passadeiras, carris de bicicleta, peões e bicicletas. Posteriormente, envia sinais gráficos luminosos sobre o para-brisas para nos alertar da sua presença e de outros potenciais perigos, para segurança de todos.

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Isto ainda está em processo de desenvolvimento e existem discrepâncias sobre a sua implantação. Por um lado, os HUD com ecrã polarizado podem passar despercebidos se se utilizar óculos de sol polarizados. Por outro, seria preciso analisar que influência poderia ter como distração, apesar de, precisamente, o seu objetivo ser reduzir a sinistralidade ao facilitar a acessibilidade da informação do carro. O que temos claro são as seguintes vantagens:

– Oferecem um grande campo de visão, maior de 120º

– Alta resolução e melhor cor, brilho e contraste do que os ecrãs convencionais.

– Tudo o que precisa de saber está à sua frente. Não é necessário olhar para o painel de instrumentos.

– Imagem 3D real com modulação de profundidade que se integra no ambiente.

– Juntamente com a função mãos livres, a concentração pode estar sempre no volante.

Fundación MAPFRE de mãos dadas com a realidade virtual

Se há coisa que tanto a Fundación MAPFRE como a Associação Espanhola da Estrada (AEC), afirmaram pela segurança rodoviária é que a utilização destes dispositivos nos automóveis deve acontecer sempre sob o compromisso de que não são invasivos e sempre como assistência ao condutor. Estas duas premissas garantem que qualquer ferramenta tecnológica irá favorecer a segurança rodoviária e vai reduzir os riscos de acidente na estrada.

Ambas as instituições centraram esforços na utilização da realidade virtual focada na melhoria da segurança rodoviária laboral e na formação dos mais idosos.

Fonte: CirculaSeguro.com

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