Digitalizar os transportes públicos é a chave para uma cidade mais sustentável

Ines Carmo

23 November, 2020

Os transportes públicos são uma das ferramentas fundamentais para conseguir uma mobilidade mais sustentável e combater o congestionamento e a poluição nas nossas cidades. As autoridades encontram ainda vários desafios, sobre como fomentar uma maior utilização por parte dos cidadãos, garantir a acessibilidade de todo o tipo de utilizadores e melhorar a racionalidade e eficiência dos vários modos de transporte.

A solução para estes desafios passa pela digitalização do transporte público. De acordo com um relatório do jornal The Economist, 83% dos responsáveis pela área dos transportes têm a integração da tecnologia entre as suas principais prioridades. As estratégias a longo prazo centram-se em três aspetos fundamentais: a gestão do fluxo de utilizadores, as emissões e o pagamento de bilhetes, bem como a apresentação de informação de utilidade aos cidadãos.

Plataformas de mobilidade multimodal

Este conceito de mobilidade trata-se de utilizar várias formas de transportes num mesmo percurso, algo que realmente sempre fizemos durante a nossa vida (por exemplo, apanhar um comboio suburbano e depois o metro para ir para o trabalho). Isto já permitiu a utilização do uso do carro particular, como acontece cada vez mais nas grandes urbes, com cada vez mais alternativas de transporte público.

Mas para fomentar a mobilidade é necessária uma maior integração e conexão das várias formas de transporte. Os utilizadores atuais são mais exigentes e procuram sistemas que permitam trocar com rapidez e facilidade de um modo para outro, com as menores esperas possíveis e tendo em todo o momento o controlo do tempo do trajeto. Tudo isto se consegue conectando digitalmente os vários sistemas de transporte, não só para disponibilizar mais informação ao utilizador, mas também para poder adaptar as frequências e horários das linhas. Há um exemplo disso na região alemã de Ruhr, onde se implementou um sistema de controlo de transporte intermodal (ITCS) baseado na nuvem. Assim, conseguiram um serviço de transporte público com menos demoras, conexões mais fiáveis e, em eral, uma maior satisfação por parte dos utilizadores. Na mesma linha trabalham também as Filipinas, onde as entidades de transporte utilizam aplicações de código aberto para que a autoridade de mobilidade possa aceder aos dados compilados e planificar com mais eficácia os trajetos de mobilidade multimodal.

Bilhete eletrónico único

transportes públicos

Um dos elementos fundamentais para conseguir uma mobilidade multimodal plena é o bilhete único eletrónico. Não se trata apenas de uma forma de pagamento unificada para o transporte público, mas também para portagens das autoestradas, estacionamentos ou plataformas de bikesharing. Os sistemas digitais permitem, além disso, desfrutar de formas de validação sem contacto (tão importante nestes tempos de Covid) e explorar formas de pagamento alternativas, como o Pay As You Go.

Em Espanha, são cada vez mais frequentes os sistemas de transporte permitem pagar através de uma aplicação móvel. No Reino Unido, a operadora de autocarros Arriva já permite enviar bilhetes eletrónicos por utilizar a um familiar ou amigo. Em Barcelona estamos à espera da T-Mobilitat, o cartão único que permitirá pagar em função das nossas rotinas de transporte, quilómetros percorridos e a frequência de utilização.

Preços dinâmicos associados a custos reais do transporte

Uma das vantagens de sistemas como o Pay As You Go (também conhecido como Pay As You Use ou “Pague confirme utiliza”), é a possibilidade de estabelecer preços dinâmicos. Desta forma, o custo do nosso trajeto pode variar em função de fatores como o dia, a hora ou a rota. Mas também podemos associar o preço do bilhete a fatores que influenciam o custo real da viagem que fizemos, como o congestionamento do trânsito e, até, o nível de ocupação do autocarro ou comboio que apanhámos. Os preços dinâmicos não só nos oferecem, enquanto utilizadores, mais alternativas que se ajustem às nossas necessidades (trajetos mais diretos ou preços mais económicos). Também nos permitem tomar maior consciência sobre o custo real que tem para os cofres públicos as diferentes formas de transporte e de mobilidade. De acordo com a Cisco, o problema da sustentabilidade de muitos sistemas de transporte público (em geral, deficitários para a administração) vem da sensação de gratuitidade que temos de muitos serviços. Um sistema que relacione o preço do bilhete aos custos diretos levar-nos-ia a uma utilização mais racional e eficiente.

Plataformas de mobilidade a pedido

Não é por acaso que nos últimos anos houve um boom nos serviços «on demand», ou a pedido, podemos dizer. Os consumidores exigem serviços cada vez mais personalizados e ajustados às nossas necessidades. Além disso, estas necessidade são cada vez mais variáveis, devido ao nosso frenético ritmo de vida.

Com o transporte aconteceu algo semelhante. Modalidades como o carsharing proliferaram em grande parte pela flexibilidade que nos oferecem nas deslocações. Dito de outra forma, usar um serviço como e quando precisamos, é também tremendamente eficiente pois permitem que outros utilizadores sem os veículos quando nós não o estamos a fazer.

Estas modalidade de mobilidade a pedido estão a começar a estender-se ao transporte colectivo, como é o caso da plataforma Shotl. Isto seria um alívio para o sobrecarregado sistema de transportes públicos, que também se poderia virar para modelos semelhante. O sistema pressupõe ajustar a frequência de uma linha de metro ou o percurso de um autocarro à procura real dos utilizadores num dado momento.

Aplicações que ajudam a melhorar a acessibilidade

Sem dúvida que já se avançou muito em termos de mobilidade nos últimos anos. Mas as estatísticas dizem que as pessoas com mobilidade reduzida continuam a ter muitas barreiras quando necessitam de utilizar as infraestruturas e os transportes públicos. Algo que também acontece com os sistemas de informação, que também não têm em conta as necessidades específicas destes grupos.

A solução temporal (pois a ideal seria a total adaptação das infraestruturas) vem como quase sempre com aplicações para telemíóveis. Algumas como a AccessMap (EUA) ou a AccessAble (Reino Unido) disponibilizam mapas e rotas com informações sobre inclinações nas estradas ou cortes das estradas. Aqui ao lado, em Espanha, existe a empresa MassFactoru, que desenvolve aplicações para guiar e informar pessoas com incapacidade sensorial e cognitiva sobre horários, linhas, estações…

Realidade aumentada para seguir o itinerário do trajeto

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Já vimos neste artigo o potencial de tecnologias como a realidade virtual, aumentada e mista na condução do futuro mais próximo. Os operadores de transportes públicos também podem beneficiar destas tecnologias, podendo transformar os para-brisas de autocarros, táxis, metros de superfície em ecrãs com informação de alertas sobre áreas de congestionamento, rotas alternativas, etc.

Mas também podemos beneficiar, enquanto utilizadore de transporte público.por exemplo a conhecida aplicação de mobilidade para smartphones Moovit lançou recentemente uma ferramenta de realidade aumentada que permite visualizar a informação sobre a imagem real captada pela câmara do nosso smartphone. Num futuro próximo poderíamos desfrutar de uma experiência mais envolvente, através de óculos de realidade aumentada, que poderiam receber dados úteis em tempo real de vários operadores.

Imagens: iStock: tevanovicigor, tommaso79, Ekkasit919, VidorHsu, JackF, monkeybusinessimages.

Fonte: CirculaSeguro.com

 

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