França volta a mostrar que a velocidade é chave. Os promissores resultados da limitação a 80 km/h

Miguel Alves

30 de Julho de 2020

A França mostra como moderar a velocidade é fundamental para diminuir a gravidade das lesões em acidentes de viação.

Controlar e moderar a velocidade no trânsito salva vidas na estrada. Para atingir esse objetivo, os diferentes países adotam diferentes estratégias. Se olharmos para os países europeus, enquanto na Alemanha se descarta o estabelecimento de limites gerais para toda a rede de autoestrada (a “Autobahn”), a França parece estar a obter resultados satisfatórios graças à redução dos limites de velocidade, merecendo, por isso, alguma atenção.

Os novos regulamentos que produziram resultados positivos na França entraram em vigor em 2018, não sem gerar controvérsia suficiente no país para reduzir o limite de velocidade de 90 km/h para 80 km/h em cerca de 400.000 km da sua rede rodoviária. As autoridades concentraram-se em estradas de dois sentidos, onde não havia separação física. Essas vias registavam metade das mortes rodoviárias em França, em 2016.

A estatística de mortos desse período nas estradas francesas serviu de incentivo para promover a medida.

336 vidas salvas graças a 80 km/h

Carretera en Francia

Cerca de 18 meses após a modificação dos limites de velocidade para 80 km/h nas estradas mencionadas, os primeiros resultados foram publicados. Segundo a autoridade de trânsito francesa, evitou-se a morte de 336 pessoas mortas nas estradas do país.

Um estudo preparado pelo Centro de Estudos e Análise de Riscos no Ambiente, Mobilidade e Distribuição (Cerema) revela que, durante os doze meses após a entrada em vigor da medida (julho de 2018 a junho de 2019), houve uma redução na velocidade média da estrada em torno de 4 km/h, somada a uma queda na 13% em mortalidade nas estradas.

Observações a partir do segundo semestre de 2019 confirmaram a tendência. Dados fornecidos pelo Google Maps também evidenciam que o tempo para percorrer cada quilómetro das estradas nas quais a mudança no limite de velocidade foi aplicada aumentou em um segundo.

Uma variação que pode parecer trivial, mas na prática acaba por permitir salvar vidas.

80 km/h, radares e vandalismo

Apesar dos resultados (redução de sinistros graves), a controvérsia em torno da medida (redução da velocidade) foi muito palpável.
De facto, e basta olhar para a experiência francesa, as modificações (para baixo) nos limites de velocidade são impopulares, apesar dos especialistas não deixarem de advertir que velocidades mais elevadas traduzem-se num risco acrescido para a segurança.

As primeiras vozes contra chegaram a materializar-se em atos de vandalismo e destruição em direção aos radares.

O governo francês insistiu na sua estratégia e substituiu os radares danificados por cinemómetros de última geração, que são maiores e mais complicados de danificar.

O estudo Cerema também tentou medir o pulso da população sobre as medidas, mostrando que o número de pessoas que estavam contra a medida diminuiu após sua efetiva implementação.

Radar francés

Espanha seguiu os passos de França

Em Espanha, no ano passado, o limite para circular em estradas nacionais foi reduzido para 90 km/h, embora não haja estudos que mostrem sobre os efeitos na sinistralidade da medida.

Ainda assim, os responsáveis de viação espanhóis enfatizam o risco associado à velocidade, apostando no aumento do número de radares e na busca de novos métodos para detetar excessos de velocidade, como radares em cascata ou drones que controlam o tráfego.

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